O time do Náutico, que o Brasil inteiro conhece, os famosos "leprentos", desde 2007 vem ganhando experiência e surpreendendo muita gente, principalmente no Norte-nordeste.
O nosso time surgiu do nada, sem nenhuma pretenção, eu não era técnico e estava dando os primeiros passos no pólo aquático como um simples praticante. Nossos atletas, com exceção de apenas um, eram nadadores de nível mediano, e todos tinham um forte vínculo de amizade, pelo fato de serem garotos pobres e que moravam pertinho um do outro, além é claro, do fato de encararem a mesma realidade diariamente.
Pois bem, eu era um estudante de educação física em processo de finalização do curso, cheio de gás pra trabalhar (ainda sou, hehehe), e começamos uma história sem grandes objetivos, sem sonhos, sem perspectivas, sem experiência nenhuma, mas com o único objetivo de fazer essa nova molecada aprender a bater uma bola pra aumentar o número de pessoas em nossos coletas de quarta e sábado.
Só que resolvemos participar de eventos para ver qual seria nosso desempenho, começamos ainda em 2007, jogando eventos extra-oficiais, como o circuito nordeste (se chamava assim na época), sim nós somos fruto do Circuito que foi tão criticado por alguns dirigentes pelo Brasil. Diziam que o Circuito era contra a CBDA, conversa FIADA!!!! Nosso único intuíto era se divertir jogando pólo aquático. Em 2007 ganhamos todas as etapas do Circuito! Não participamos de nenhum evento CBDA, mesmo já tendo condições de disputar, pois a FCDA (federação local) tinha um presidente de fachada, que em nada ajudava e ainda atrapalhava!
2008 marca a nossa entrada em eventos CBDA, com diversos títulos e reconhecimento cada vez maior no Norte-nordeste e até mesmo no Brasil, através do fenômeno dos blogs. De lá pra cá, ocorreu um grande aprendizado dos atletas e principalmente meu como técnico, cada vez mais eu me interessei pelo pólo aquático, aplicando aos treinos um pouco de tudo que aprendia em clínicas de pólo aquático e na minha especialização em treinamento desportivo, além de motivar incansavelmente meus atletas todos os dias.
Há um mês atrás demos nosso maior passo, que foi a ida pro Rio de Janeiro, cumprindo nosso objetivo de tentar jogar duro e mostrar que fora do eixo RJ/SP também tinha gente capaz e com muita vontade de fazer bonito. De certa forma deixamos um pouco de ter aquela imagem de coitadinhos, de meninos pobres do nordeste. Mostramos que se tivermos apoio chegamos junto!
Essa experiência toda, adquirida de forma meteórica, fez nossa equipe como um todo, cair na armadilha do sucesso (sucesso esse específico nas regiões norte-nordeste). Quando se achamos melhores do que os outros tendemos a relaxar. Mas aí é que tá, não deixamos de treinar, pelo contrário, treinamos muito e muito forte, a dedicação foi sempre a mesma, porém o que mudou foi a forma de como encaramos os nossos adversários da nossa região.
Neste evento sub-21, mesmo não tendo um time nesta categoria (o nosso é sub-19), sabíamos que a obrigação de vencer era de Amazonas, porém sabíamos que com toda nossa experiência adquirida nesse último ano, nosso time era completamente diferente do que ficou em 4º lugar ano passado, e por isso tinhamos condição de sermos campeões.
Perdemos o título no 1º jogo contra Amazonas, entramos totalmente desligados, com a impressão de que íamos ganhar na hora que quiséssimos. Mesmo com muitos erros e total apatia, nós que ditamos o ritmo do jogo nos dois primeiros quartos, perdendo gols e cometendo erros que não costumamos cometer. E a primiera metade da partida terminou 2x1 pro Amazonense. Mesmo perdendo, o jogo estava longe de ser difícil, a impressão que dava é que uma hora o nosso time ia jogar e ia vencer a partida.
A segunda metade começou e o nosso time não mudou a postura, jogava ainda como se tivesse ganhando de goleada. Quero deixar claro que não estamos tirando o mérito da equipe de Amazonas, pois esta não tinha nada a ver com a nossa apatia e falta de vontade apresentada durante todo o jogo. Então, eles que não tinham nada ver com os nossos problemas trataram de jogar e nos aplicaram uma goleada incontestável de 11 x 3.
Não estou aqui querendo arranjar desculpa pra derrota, tirando mérito do outro time, porém o resultado se deu muito mais pelo nível de interesse apresentando por nossa equipe do que qualquer outro motivo. O time de Manaus fazia gols na gente com inferioridade númerica no ataque, coisa inadimissível, aliás eles em nenhum momento armavam o leque no ataque, atacavam com 2, 3 no máximo 4 jogadores. Podemos destacar sem medo de errar a auto-confiança e um pouco de soberba de nossa parte como fatores decisivos na primeira partida. Naquele jogo não reconheci o meu time, não enxerguei o espírito de luta e superação que é a maior característica dos leprentos, foi a minha maior frustração como técnico de pólo aquático, não pela derrota, e sim pela forma como aconteceu, vi um time sem ânimo, sem coração.
Fomos pra última partida sabendo que deveríamos ganhar com uma diferença de 9 gols para sermos campeões. Conversamos muito, assistimos a gravação do jogo passado, exaltamos os erros para corrigi-los e o principal, juramos pra nós mesmos que os leprentos iam jogar como sabem, com superação, vontade e inteligência durante todo o jogo, independente do resultado, sairíamos de cabeça erguida, pois íamos dar o nosso melhor e todos ainda acreditavam no título.
Na partida final já vi outro time, jogamos com muita raça, vontade, muita movimentação, inteligência, neutralizamos a principal arma do Amazonense que eram as escapadas, e em alguns momentos do jogo estivemos próximos do título, porém não deu, o jogo terminou 10 x 6 pra nós. Porém, saímos com a cabeça erguida, com muito orgulho do nosso feito e demos o nosso melhor, provando que o 1º jogo foi uma lástima de nossa parte e aprendendo a grande lição de que ainda não sabemos de nada, somos iniciantes, temos muito o que aprender e principalmente, respeitar o adversário seja ele qual for, encarando cada jogo como se fosse uma grande final! Sem dúvida esse foi o melhor jogo de nossas vidas e a minha maior alegria como técnico de pólo aquático.
Abraço!
Jefferson de Sousa Lima
Técnico do Náutico Atlético Cearense
Técnico dos Leprentos
3 comentários:
É isso ai Jefferson. Se aprende com as derrotas tb. Parabéns pelo campeonato e pela recuperação.
abs
Os Leprentos me orgulham! Uma medalha e um troféu não dizem nada quando temos certeza de que eles são muito superiores. Nem todos os dias estamos bem psicologicamente e fisicamente, por isso permitimos que os outros levem vantagem sobre nós. O jogo final foi sensacional! Ali pude ver o quanto os leprentos tem talento e espírito de equipe, deram um verdadeiro show! E principalmente mostraram o que realmente sabem! Tiaguinho, você já deveria estar na Seleção Brasileira!
Parabéns a todos e principalmente ao meu esposo Jefferson, que trabalha incansavelmente todos os dias para o sucesso dos Leprentos!
parabéns, jefferson.
excelente trabalho!!
abs.,
Felipe
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