Na edição de ontem, domingo (25/05), do Caderno de Esportes do jornal O Globo, foi publicada uma matéria do jornalista Cláudio Nogueira, com Felipe Perrone. Para quem não teve a oportunidade de ler, reproduzimos abaixo a matéria.
"UM ESPANHOL CARIOCA DA GEMA"
Ao desembarcar no Rio, vinda da Espanha, ainda jovem, nos anos 30, depois de ver seu país devastado pela Guerra Civil Espanhola, Núria Heras mal poderia imaginar que, décadas mais tarde, seus netos precisariam se lançar na piscina para poderem cruzar o Atlântico e fazer o caminho de volta à Espanha. Graças à ascendência hispânica, os irmãos cariocas Kiko e Felipe Perrone, de tradicional família apaixonada por esportes aquáticos, têm dupla nacionalidade e irão representar a seleção de pólo aquático da Espanha nas Olimpíadas de Pequim.De férias no Rio, depois da temporada da Itália, onde defendeu o Savona, do norte do país, Felipe, de 22 anos, está na Europa há cinco. Filho de Ricardo Perrone, que até hoje joga pólo aquático no masters e irmão de Kiko, também da seleção espanhola, e de Roberta, ex-nadadora do Flamengo, Felipe começou no pólo aos 7 anos, tendo atuado pelo Guanabara e pelo Botafogo.- Joguei na seleção brasileira até o Pré-Olímpico de 2004, na piscina do Vasco (o Brasil não se classificou para os Jogos de Atenas). Nos Jogos Pan-Americanos de 2003, em Santo Domingo, fomos prata - conta Felipe, antes de explicar a ida dele e do irmão para a Espanha:- Por sermos netos de espanhola (Núria, mãe de sua mãe Ema), temos dupla nacionalidade. Joguei na Liga Espanha por quatro anos, duas pelo Barcelona e outras duas pelo Barceloneta, arqui-rival do Barcelona. Pelo Barcelona, fomos campeões das Ligas de 2003/2004 e 2004/2005 e da Copa da Uefa [na verdade, Copa LEN] de 2004, e no Barceloneta, ganhamos as Ligas de 2005/2006 e 2006/2007.Se no Brasil o jogador de pólo aquático é semi-profissional, e os atletas trabalham e não se dedicam totalmente à modalidade, na Espanha, ele é profissional.- Na Espanha, há jogos todos os sábados, com TV, e o pólo é conhecido, badalado. Lá se dá apoio financeiro aos jogadores de seleção, e quando param de jogar, têm empregos. Eles têm bolsas em universidades, e a estrutura é profissional - enfatiza Felipe, um dos cinco melhores atacantes do mundo, para a revista "World Water Polo".Pela seleção espanhola, Felipe já ajudou no bronze do Mundial Aquático, em Melbourne, na Austrália, em 2007. A Espanha foi campeã olímpica de 1996, em Atlanta.- Eu e meu irmão vamos realizar juntos o sonho de ir às Olimpíadas pela primeira vez, e nossa família vai a Pequim torcer por nós. Eu me sinto, de certa forma, representando o Brasil em Pequim, já que nossa seleção não vai - afirma ele, que voltará hoje para a Espanha para o período de concentração da seleção num moderno CT em Barcelona. - Kiko está na Espanha desde 2001. De início, jogamos juntos no Barcelona, mas depois mudei de time.Felipe teve dificuldades em passar a jogar pela Espanha, em 2005.- Foi uma decisão muito difícil, porque nasci e fui criado aqui. Mas vi que no Brasil as coisas não caminhavam. Teria sido legal jogar os Jogos Pan-Americanos do Rio (2007). Mas era algo imediatista. Não havia um programa para levar o país às Olimpíadas. Assim, você nem se sente defendendo o país. Ninguém sabe que você está jogando - diz ele, que joga o Europeu, em julho, em Málaga. Em 2007/2008, Felipe, que é atacante e artilheiro, foi atuar no Savona, daquela cidade, que tem o pólo aquático como seu esporte. -Lá, eu sou ídolo. Há várias matérias na imprensa, e quando faço um gol a torcida fica cantarolando "Aquarela do Brasil".No que diz respeito aos Jogos Olímpicos, o Brasil não manda seleção masculina no pólo aquático desde 1984, em Los Angeles. Além de Kiko e Felipe, na Espanha, o brasileiro Tony Azevedo, que joga pelos Estados Unidos há anos, irá defender aquele país em Pequim.- No Brasil há talentos. O que falta é estrutura profissional - encerra Felipe, que depois de Pequim, jogará um ano no Barceloneta e mais três temporadas no Savona. "
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