Finalizada mais uma competição internacional é importante fazermos considerações finais sobre o evento, principalmente, para os que não puderam estar presentes em Sibenik na Croácia, possam dimensionar na medida exata o que a mesma representou para o pólo aquático brasileiro.
Em primeiro lugar, uma constatação evidente de que a FINA acertou ao diminuir a faixa etária da competição, possibilitando um equilíbrio maior nas disputas, na medida em que separou os semi profissionais dos não profissionais do esporte.
Agora, sim, são todos, talvez com algumas exceções, garotos que não tem outra coisa a fazer a não ser estudar e treinar. A primeira tarefa, de caráter obrigatória na formação do indivíduo e a segunda, obrigatória para aqueles que tem objetivos maior no esporte relacionados ao seu desempenho.
Volto há dois anos atrás, quando em Los Alamitos - Califórnia, durante o Mundial, o técnico da Seleção Brasileira também na ocasião, Angelo Coelho, após ter que inúmeras vezes substituir atletas durante o jogo em andamento (sem tempo morto), fez a seguinte colocação: “Temos que treinar muito mais do que treinamos. Para jogar nesse nível nossos atletas tem que treinar mais” .
Passado dois anos a promessa foi cumprida. Nunca uma Seleção Brasileira treinou tanto quanto essa que participou do campeonato em Sibenik. Os atletas fizeram sessões de treinamento que chegaram a 05 horas!.(coisa inimaginável para o polo aquático brasileiro, mas muito comum em outras disciplinas aquáticas).
Durante o vôo para a Croácia, numa conexão em Munique, conversando com alguns atletas, os mesmos apesar do “sofrimento” que passaram, mostravam-se entusiasmados pelo treinamento que fizeram.
Não satisfeito, e para compensar a ausência de treinamentos internacionais, o técnico chegou a fazer 03 treinos por dia, treinando com Nova Zelândia, Africa do Sul e Hungria.
O resultado final não poderia ser diferente. Conseguimos a melhor colocação dos últimos 15 anos, e de uma forma inédita, todos os jogadores participaram dos jogos e, ainda, em determinados momentos, substituídos em grupos de seis. Em todos os jogos, conseguimos manter a qualidade de movimentação chegando ao ataque em menos de 15 segundos. Fizemos, também, um jogo histórico contra a Hungria que entrou “ mordida” pela não classificação para as finais.
Temos ainda muitas deficiências, principalmente nos fundamentos e no trabalho de pernas. Se preparem os atletas da geração 1993 por que já escutei do Angelo uma outra promessa: “ Vamos ter que treinar mais ainda. Só que dessa vez vamos ter que melhorar também nossos fundamentos, trabalho de pernas e dar uma atenção maior ao trabalho de força. Não adianta só melhorar a natação, se continuamos a errar passes e chutes”.
Concordo em gênero, número e grau. A técnica é, ainda, o grande diferencial. Esse passa também a ser o nosso grande desafio! Isso faz parte do nosso dever de casa. Treinamento internacional é muito importante e temos que tê-los., mas como diz o Angelo, “ temos que fazer o dever de casa. Isso é : muito treino!”.
Pensando nisso, os técnicos já apresentaram uma proposta de monitoramento, já a partir do próximo mês de 40 atletas que serão pré-convocados para o 93. O monitoramento será feito através de testes físicos e técnicos, o que permitirá um aproveitamento melhor dos treinamentos quando os mesmos se reunirem.
Parabéns aos atletas e a Comissão Técnica, que teve também no Tiago Almeida, um profissional incansável tanto na formação e motivação da equipe, quanto na sua vontade de aprender marcando pressão os técnicos da principais equipes, buscando sempre mais informações.
Tenham certeza de que os atletas estão trazendo de volta na bagagem, um presente muito bom para o pólo aquático brasileiro: A mudança de uma cultura de treinamento. Tenham certeza, também, de que os mesmos já deixaram de lado a cultura da lamentação e das desculpas. Que os próximos façam o mesmo.
Abraços
Ricardo Cabral
Chefe da Delegação do Brasil
Gerente de Polo Aquático da CBDA"